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all star





anos setenta
garota
conga branca
saia de pregas
mangas longas
meias logo
abaixo das coxas

tornou-se moça
na corda bamba
mulher à beira

foi dona doida
maluca beleza
lelé da cuca
[e mais um porre
de alcunhas]

mas era uma
maria só
[pobre star] do ceará

maria sem órion
maria sem hora
maria sem guia

estrela una
fora de si
vestia um mar

despia seu
"desequibrilho"

- a girar a girar a girar -

canta maria
em céu
só seu

um nada
sóbrio
serestar


valéria tarelho
à maria cearense, uma lenda, uma estrela

Comentários

valéria tarelho disse…
maria cearense, maria rendeira, maria louca...

figura lendária de Guarujá, litoral sul de SP foi 'personagem' de minha infância. dizem que era professora e que a morte da filha, por afogamento, deu origem à loucura.
bebia muito, talvez para afogar a memória. vestia todo o seu guarda-roupas, peça sobre peça, menos as íntimas. era comum vê-la em cena pelas ruas, erguendo suas muitas saias. nua e não.
cantava só, falava só, xingava só. brigava com deus e o mundo enquanto travava sua própria luta. maria metia medo na criançada que, como eu, corria. e ria.

hoje vejo maria com olhos adultos e percebo seu brilho. único.
valéria tarelho disse…
ahhh, na foto sou eu, "kimberlizada" ;p
Henrique disse…
Obaaa...poesia!

Esse texto me deixou com uma saudade...me trouxe à lembrança leituras antigas. A atmosfera onírica e essa melancolia trágica do final me fez lembrar de ofélia e de Ismália.

Gostei de mergulhar nesse devaneio..

Valeu!
Ricardo Mainieri disse…
Val:

Vários malucos fizeram parte de minha infância/adolescência.
Um deles virou personagem. Chamava-se Xantu e era um gari. Ele costuma dizer coisas sem nexo como: vou fotografar esta jogada com a máquina de escrever e insitir numa nova marca de carro chamada Chavete.Está num conto meu chamado "O gari e o guri".
Os malucos sempre são bem-vindos, pois jogam na cara da sociedade suas contradições, seu cinismo e otras cositas más.
Nostálgico teu poema, tua conga lembrou de meu kichute e das calças "boca de sino" com emenda lateral.
E de Pink Floyd, Led Zeppelin e tantas coisas boas dos anos setenta, apesar da dita...dura.

Beijão querida.

Ricardo Mainieri
Ricardo Mainieri disse…
Val:

Vários malucos fizeram parte de minha infância/adolescência.
Um deles virou personagem. Chamava-se Xantu e era um gari. Ele costuma dizer coisas sem nexo como: vou fotografar esta jogada com a máquina de escrever e insitir numa nova marca de carro chamada Chavete.Está num conto meu chamado "O gari e o guri".
Os malucos sempre são bem-vindos, pois jogam na cara da sociedade suas contradições, seu cinismo e otras cositas más.
Nostálgico teu poema, tua conga lembrou de meu kichute e das calças "boca de sino" com emenda lateral.
E de Pink Floyd, Led Zeppelin e tantas coisas boas dos anos setenta, apesar da dita...dura.

Beijão querida.

Ricardo Mainieri
Lá no RJ também tem uma mulher lendária assim. Anda muitas vezes pela praia. No verão de 2008 sambei com ela na Av.Atlãntica, coisa que não faria quando criança...ela se meteu na minha frente e começou a sambar comigo ao som do batuque da escola de samba convidada praquele show e eu fui na onda...minhas filhas ficaram de olhos arregalados com ela,rsrsrs...
A betty Vidigal escreveu sobre ela outro dia: estava falando em um celular invisível.

Muito bom poema!
Flá Perez
valéria tarelho disse…
acho que esse tipo de maluco tem em todo lado, já viraram patrimônio das suas cidades ;)

lembrei até de um poema (trecho) do leminski:

(...)
todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também


valeu, pessoas!
Que lindo, Val! Parece vir mansamente de longe, para então fechar com aquele ser e estar juntos na música de tudo, na música das esferas. Adorei!!!