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sem título

Não conheço a pressa ou a preguiça que te desperta a não sei que horas. Nem imagino o quanto você demora no banho, se deixa o chuveiro pingando, a toalha pelos cantos, se dá bom dia ao espelho. Não sei o seu cheiro,  sequer suspeito a sensação que ele [me] provoca, a lembrança que fica no travesseiro, a fragrância que fixa na pele que jamais t[r]ocamos.


Não sei do seu café da manhã (qu'est-ce vous voulez pour le petit déjeuner? je ne sais pas...), dos sonhos matinais que irá nutrir os pesadelos do dia, dos beijos que você adoça: com açúcar (e afeto) ou artificialmente (quantas gotas por dose?)? Será que preciso erguer a ponta dos pés para alcançar sua boca?  Pequenas coisas em que eu perderia a conta, não acertaria a medida,  porque não aprendi a sua matemática. a vida me privou da sua lógica. Não provou a existência de nossa química. Também a lua, em fase nova, só nos permite a face escura. No entanto, sempre esteve no mesmo lugar.

Não sigo sua correria, não transito por suas avenidas, não paro no mesmo congestionamento diário. Também não participo da sequência de "bom dia" entre o estacionamento e sua sala (vazia, nua e escura na memória destes meus olhos cegos de tudo que te cerca).

 E, assim, seu dia segue, sem que eu saiba uma sílaba do que você fala. E em que língua. Com que lábia encanta serpentes. Se você mesmo lambe suas feridas, ou procura outra saliva.

Quando anoitece, você volta para algum ninho, onde alguém te recebe. E não sou eu, lá, naquele quarto, compartilhando o cenário, a cama, o sexo, o amor. Não possuo propriedade ou posse sobre sua alma e corpo.

Não sou eu, acordando do meio da noite ao o som do seu ronco.

Ainda bem.


valéria tarelho

Comentários

Anônimo disse…
Bis.

;)


vVv