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confissões de "envelhescente"

1. às vezes vou a, volto da e esqueço a crase em casa.

2. houve uma fase em que eu deixava as aspas abertas. e as frases escapavam com o pensamento, que fugia.

3. nessa época havia sempre uma palavra na ponta da língua. eu ficava mordida para lembrá-la. saiba: mordida é eufemismo. eufemismo! enfim, lembrei!

4. as reticências eram minhas melhores amigas, mas aí...

5. usei todos os porquês, porque disseram que o mundo acabaria em 2000. não acabou. e, logo no início do ano fatídico, tive um filho. ele reivindica todos os porquês. com juros.

6. tenho preguiça de inicial maiúscula e pontuar poemas. também tenho licença poética, o que atenua o delito. eu posso, nada me poda.

7. não ando na linha, nem sigo a pauta do dia. eu quero é viver em pátina! o que pintar, leminski assina: poeta.

8. minha vida é um diário de bordo. de bolso. compacto. se for mandá-la a algum lugar, que vá pra pocket, que irá feliz da vida.

9. velha era aquela 'idéia' acentuada. minhas ideias novinhas estão na balada. inconsequentes. sem trema, nem trauma.

10. domingo no parkinson foi um tremendo dia!

11. já passei do ponto, mas não dei sinal.

12. alzheimer mandou lembranças e esqueci onde as guardei.


valéria tarelho
novembro/2014
*poeta é a vovózinha

Comentários

Unknown disse…
Quem anda na linha corre o sério risco de ser defenestrado pelo trem.
valéria tarelho disse…
É um risco, mas fora da linha há abismos certeiros.