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ardendo por aí III




RIO DE JANEIRO - Dedo de moça: uma antologia das escritoras suicidas – organizada por Silvana Guimarães e Florbela de Itamambuca, com prefácio do músico Guttemberg Guarabyra, ilustrações de Eliége Jachini e orelha do escritor Nelson de Oliveira – é uma antologia de prosa e poesia. É também a transformação em livro do site Escritoras Suicidas, no ar desde 2005.

O grande diferencial tanto do livro quanto do site é o fato de as autoras, em sua maioria, não terem sua identidade revelada. Há homens por trás dos pseudônimos femininos. Dois são divulgados: o carioca Rodrigo de Souza Leão e o romeno-carioca Iosif Landau. Ambos já falecidos; nenhum dos dois por suicídio.

O livro é mais compreendido pelo que não é. Não se trata de um apanhado de textos sobre suicídio nem uma homenagem a escritoras que se mataram. Tampouco é bandeira sobre escritura feminina.

Não é uma revelação de novos nomes da literatura, pois não se sabe quem está por trás da maioria dos textos. E os que se dão a conhecer não são estreantes.

A organizadora Florbela de Itamambuca, segundo a nota biográfica, é paulista de 1986, “artesã, neta de tupinambás e, com um pé no catimbó, corre atrás de cuidado de sua cultura caiçara e criar seus curimins com muito amor e dignidade”. Tudo indica ser um personagem de ficção.

As notas biográficas, na maioria dos casos, são ficção. Fazem parte da obra, são conteúdo. Isso dá ao objeto-livro uma proposta. Ele traz um enigma, ele camufla. Deixa o leitor sem saber direito de onde vêm as vozes que escuta.

Pesquisa detalhada na internet revela uma ou outra identidade, mas estão bem disfarçadas. Sobre a outra organizadora, Silvana Guimarães, dá-se a saber que é mineira de Belo Horizonte e coedita o site Germina, revista de literatura e arte, uma referência no meio literário, principalmente para jovens escritores.

A contemporaneidade assumiu a arte do espetáculo, como Andy Warhol já apontava, e como fica evidente no sucesso dos reality shows. O que se sabe desde o Eclesiastes, e o que o mundo contemporâneo não mais esconde, é que tudo é vaidade. O livro das biografias fictícias, pseudônimos e identidades não reveladas faz referência a esse mundo do espetáculo justamente por não aderir a ele. O que menos importa aos autores, ao que parece, é ver-se revelado ou aplaudido pela identidade do dia a dia. Ainda que este possa não ter sido o objetivo das autoras, é o efeito estético que se estabelece.

A mistura dos gêneros literários diferencia a obra das demais antologias. Esta liberdade de escolha chama a atenção para a rigidez do estabelecimento de um gênero a ser seguido. Por que optar-se por um gênero ou mesmo defini-lo?

Se o trabalho se destaca como conceito e as identidades individuais não fazem muita diferença, por outro lado, há textos que vão além e se destacam pela qualidade literária. Citemos: Dias de guerra, de Romina Conti, pseudônimo de Rodrigo de Souza Leão; Toninho do desalento, de Roberta Silva; Verrückten hunden de Patty Flag, tríptico mortal, de Ro Druhens; Aflitos, de Silvana Guimarães, e Rosário de lágrimas, de Simone Santana.

Dedo de moça

Terracota

160 páginas, R$ 26

Comentários

que legal! qdo tiver grana compro.
lá no Bar do Escritor também lançamos, em 2009, uma antologia assim, sem rótulo, linha ou gênero literário definido.
Parabéns!
Neusa Doretto disse…
Parabéns por esse trabalho constante com a literatura alternativa___como compro?