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lançamento 2



update: 20/04 - 20h35 - release

Folias de Eros em tempos de repressão

“A literatura não é um passatempo nem uma evasão”, como disse Ernesto Sabato, mas “uma forma — talvez a mais complexa e profunda — de examinar a condição humana”. Nos 14 contos de Alguém para amar no fim de semana ([e] editorial), Luiz Roberto Guedes realiza esse exame através da lente do erotismo.

A pulsão erótica perpassa o corpo de histórias, a exemplo de Encontros no escuro, em que um escritor cego é obsedado por seus fantasmas sensuais, ou de Pessoas inexistentes, na qual um mendigo redige um ‘diário sexual’ alucinado, narrativa que o escritor Sérgio Sant’Anna qualificou, numa entrevista, de “um conto de primeira grandeza”. Ou ainda no affaire portenho de Tango com a Vênus perneta, cujo tema, que poderia tropeçar no grotesco, é tratado com delicadeza.

A celebração de Eros é definitivamente mais apaixonada na série de contos protagonizados por um jovem Josué Peregrino (talvez um alter ego), em peripécias e experiências que transcorrem nos anos 70 e 80 — com trilha sonora de música popular e o recurso à droga para fins recreacionais. A prosa precisa, afim à mirada de um Nelson Rodrigues ou de um João Antonio, é repassada por um toque comedido de humor.

Segundo o escritor Luiz Ruffato, que assina a apresentação, o livro embute em sua estrutura “uma quase novela fragmentária, de sabor pop, sobre os impasses da juventude nos anos negros da ditadura militar”. Em tempo amputado de utopias, o livro é um repositório mítico de fantasmas, fixações, demônios íntimos, canções, paixões e revoltas. Com seu título altamente irônico, Alguém para amar no fim de semana é o espólio afetivo de uma geração. Poeta e escritor, Luiz Roberto Guedes publicou, entre outros, Calendário lunático (Ciência do Acidente), O mamaluco voador (Travessa dos Editores) e Meu mestre de história sobrenatural (Nankin).

[Ronaldo Cagiano]

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