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te amo (acho)

eu te amo
torto
errado
do avesso
te amo acelerado
a mais de cem
na contramão
amo-te
porque és contravenção

eu te amo
do meu jeito imperfeito
: te amo sim
te amo não
te amo sei lá como
e por que não?

eu te amo
por vício
ócio
tédio
tentação
e te amo por preguiça
porque não tem remédio
e o perigo me atiça

eu te amo
por tabela
pelas beiras
nas quebradas
ribanceiras
juro que te amo
por puro ataque de bobeira
e por qualquer bagatela

eu te amo
anti-horário
em outro fuso
fora de orbe
te amo desnorteada
sem rumo
entregue à sorte
de amar-te fora do prumo
(devolve o Norte
da minha bússola!)

eu te amo
vassala
gueixa
escrava
te amo sem queixas
sem mágoas
sem receber minha paga
em amor
(quer saber? eu te amo mesmo
é prestando um favor!)

eu te amo
no outono, os ramos secos
no inverno, o gelo
na primavera, os espinhos
no verão...
ah! no verão não te amo não
: você é liquefacto
e te amo pedra no meu sapato

eu te amo
másculo
rato
inseto
te amo só de longe
(que, de perto, sinto asco)
te amo, também, porque não presto

eu te amo
fração ordinária
te amo logaritmo
(só porque o nome é feio)
eu meio que te amo
porque inteiro, é excesso
e você escassa
por isso te amo a falta
o pouco
o naco de nada

eu te amo
por um ano a fio
(que a vida toda é um saco)
te amo parco
(que muito, é porre)
eu te amo como quem morre
de infarto

eu te amo
fora dos trilhos
dos eixos
de tudo que se encaixa
e se completa
e te amo aos solavancos
: soluços são estribilho
no meu poema manco

eu te amo
emralhabado
sopa de letras insossa
palavras cruzadas
sem banco de respostas
te amo assim
: destemperado
complicado e tosco

eu te amo
muito mal e sem igual
de um jeito diferente
: sem cor, ação, som
e te amo mais
quando você mente, coração

eu te amo
andarilho
maltrapilho
esfarrapado
(convenhamos, você é lindo engravatado
: fora do meu padrão)

eu te amo
como uma frase feita
um dilema
um estratagema
: digo que te amo
como quem não ama
e amando, não amando
vou à luta armada
deixando-te na dúvida

eu te amo
o modo inacabado
impaciente
debochado
amo quando calas o que sentes
amo, ainda, quando engulo
orgulho e grito

eu te amo
ou finjo
invento
inverto os fatos?
(há tanto tempo minto
que nem seino que acredito)

resumindo
: eu te amo
(se não me engano)
e duvido que outra tonta
te ame tanto

valéria tarelho
janeiro/04

* repost, só porque ontem alguém comentou este poema
postado originalmente em agosto/05

Comentários

Ricardo Mainieri disse…
Val :

É de fato um amo quilométrico...(rs)
Mas, escrito com tua competência de sempre.
Moderna, irônica, humorada, a Valamante.

Beijão.

Ricardo Mainieri
valéria tarelho disse…
são 18 estrofes, Maini, haja amor!!!! ;)
e, acredite: havia mais algumas que podei na hora h.

esse poema foi o que deu origem ao "if" que está no perfil do Orkut. Ou seja: o "te amo (acho)" passou por uma "lipoinspiração" e ficou com aquele corpinho..rs

valeu, querido, super beijo!
Anônimo disse…
Eu me rendo, te amo também!! :-) Amo tua poesia, criativa e cativante, tua pessoa meiga e teu sorriso sincero. Amei te conhecer em Bento e comprovar que toda minha admiração que já nutria era realíssima e mais do que justificada!
Beijos, Val, muitos!
Chris
Anônimo disse…
que lindo!!!!

beijos
Anônimo disse…
outras raras belezas (em formas de poesia).

Viral...
pituco disse…
Poetisa,lendo teu poema, me deu vontade de ser amado...e lipoinspiração é ótimo...hehehe!namaste
Benvinda Palma disse…
Val!

Que amor mais lindo...louco...lírico...lúbrico!!!

Tudo que desejeamos pra nós!

Simplesmente divino teu poema!

Aproveito para agradecer-te por tua visita em meu cantinho...com certeza, tua presença lá deixou-o mais encantador! Agradeço-te também, por o teres enlaçado ao teu...uma grande honra... afinal...vc poetisa consagrada...eu, simples aprendiz!

Beijos minha amiga!
Paulo Ednilson disse…
Nossa Val! O amor cantado assim... Quero um igual pra mim!
Anônimo disse…
Como dizem os meus irmãos de sangue...é bestial!
Falar o quê, pra você? Val(e) quanto sente.
Bjs

Ô Paulo, desculpe, mas quero um pra mim tb.
Anônimo disse…
Aqui a péle viu-se desvendada por debaixo do amontoado de palavras que desenham o poema, desarrumando a harmonia libertadora dos constrangimentos formaís.

Florbela Espanca me faz recordar. ( o estilo )

Agradavel de se lêr.

Um abraço deste lado do mar.
valéria tarelho disse…
Uau, quanta gente querida passou por aqui!!!

Poemas longos não são meu forte (enquanto poeta e leitora), mas esse me agrada, talvez devido à boa aceitação que ele tem e/ou porque o tom irônico não o torna cansativo ("achismo" meu).

Tenho amor de sobra por cada um de vocês e a sorte de ter trocado de pertinho essa energia com quase todos (e os que estão em terras estrangeiras, não perdi a esperança...tá aí a Chris, da Alemanha, como prova de que este amor que nos une move mundos).

Beijo e obrigada pelo carinho, meus amores!
Anônimo disse…
Ai, ai, como amar é bom!

Deixa marca, tira padaço, vira o mundo de cabeça pra baixo! E é booooooooooom!!!

O poema traduz tudo isso, adorei!
Benny Franklin disse…
Poesia de encantar serpente emplumaada. Parabéns!
Paola Caumo disse…
Oi amada,
Lindo D+ esse poema. Parabéns!
Beijocas,
Paola
Anônimo disse…
Mas esse seu poema é o máximo. Com 18 estrofes ou 180, o ritmo dele não nos cansa. Já o amor cansa.. rs. Beijomeu.
Anônimo disse…
... tô re-lendo as entrelinhas. um dia devo de terminá.

Viral.