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um tanto quanto plástica

não, meu bem, hoje não tem poesia. poesia [essazinha] é pra quem tem peito e hoje acordei para a realidade: preciso - urgente - de uma prótese.

caiu a ficha, assim que notei as formas mínimas. poeminhas cheirando a leite [tão parecidos com os de menina que adolesce]. coisinha meio empinadinha, é certo, mas nada notável. nem um pouco proeminente. niente, nothing, rien, nichts, nada que atice o imaginário [hétero, homo, bi e todos os seus derivados]. a vantagem [no não avantajado] é que são naturais. e meus. tem voyer que não se incomoda. até gosta. os olhos gozam entre uma espiadela e outra nessa ausência de protuberância. carência, só pode. ou coisa indefinida, que nem aquele tal [o pai daquela palavra esquisita: psi qualquer coisa] se atreveria.

mas hoje não, meu bem. hoje acordei mulherzinha de tudo. vaidosa atéééé. cheia de pose. e possessa. querendo meter os peitos nesse mundão com fome de carne. ânsia de substância. mundo cão. carnívoro mundo homem. mas, cadê? assim, desprovida de tudo, me falta coragem ["coragem" é delicadeza, porque estou mulherzinha, repito - pensem aí em algo que macho diria e eu também, não fosse hoje].

poesia é para quem tem peito. desisto [hoje ao menos]. hoje encarei de frente o óbvio: esse estilo - agora - não me serve. aderi ao protótipo. hoje uso alguns mililitros extras [vês como o bojo fica preenchido? notas como transbordo?]. é tanta prótese que nem cabe na tua boca, neném. teus olhos, então, são poucos para este oceano siliconado [nem ouso mencionar o volume que te escapa das mãos. visualize, meu bebê. visualize].

hoje, benzinho, acordei sem peito para encarar até espelho três por quatro. vi-me démodé. nenhum modelo me caía bem. foi então que abri mão dos receios e implantei esta prosa [que em mim é tão artificial quanto os seios daquela uma - sim, essa aí e aqueloutra também].

ok, ok, sinto-me desconfortável. talvez pareça produto falsificado: made in pê quê pê city. mas hiper na moda. in, é mais chique [in é muito gay, mas também é coisa de femeazinha - li na vogue, na recepção, entre um medinho e outro] . o alívio: nada impede que eu amamente sua sede [li não sei onde. não, não foi na vogue, nem na cláudia, nem naquela outra [a da ilha da fantasia], mas é fonte segura. senti firmeza].

por hoje chega, baby. vou evitar exageros e parar por aqui. já está de bom tamanho, concorda? e temo que o novo "visú" [pausa para enxertar um look nessa falha minha]...

como dizia, temo que o novo look vicie teu olhar, habituado a despir meus poemas flácidos [já convicta de que minha prosa, para ser gostosa, precisa - para ontem - de uma lipo. no papo].


valéria tarelho

Comentários

Anônimo disse…
Que percepção e bom humor.
Como você trabalha bem as idéias, menina.
De novo, demais.
valéria tarelho disse…
prosa-cor-de-rosa, no estilo legalmente loira ;)

merci, monsieur anonyme
Anônimo disse…
Voilà, à quelque chose malheur est bon.
bjs