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Sangue na Casa das Rosas

Recital de escritoras sangra preconceitos na Casa das Rosas
(por Marília Kubota)

No dia 12 de julho de 2006 dez autoras participantes do projeto Escritoras Suicidas estarão se apresentando na Casa das Rosas, a partir das 19h30. As poetas e escritoras Andrea Del Fuego, Jane Sprenger Bodnar, Jussara Salazar, Mara Coradello, Marília Kubota, Mariza Lourenço, Ro Druhens , Silvana Guimarães, Valéria Tarelho e Virna Teixeira vão ler textos que refletem a condição feminina na literatura.

No ar desde outubro de 2005, atualizado com um tema a cada mês, o site Escritoras Suicidas — www.escritorassuicidas.com.br — vem divulgando a produção representativa de novas e novíssimas autoras, que começaram a produzir a partir dos anos 90 e 00. São mais de 30 colaboradoras fixas, além de convidadas.

O nome Escritoras Suicidas não presta reverência a Virgínia Woolf, Ana Cristina César, ou outra escritora/poeta suicida, como se poderia supor, mas faz parte de uma estratégia para fazer com que o estereótipo que se cola à literatura feminina — o da escrita confessional, passional e voltada ao umbigo — se auto-extermine. Um site só de mulheres, uma ironia ao estigma que impuseram à "literatura feminina" = drama + depressão + suicídio, explica Silvana Guimarães, editora do site.

Os textos das autoras sangram o clichê de que escrita de mulher é sinônimo de fragilidade de espírito ou de idéias. Há pouco tempo um editor de um site afirmou — em resenha do livro 25 Mulheres que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira, organizado por Luiz Ruffato — que uma antologia só de mulheres despertava nele a vontade de encontrar uma mulher fisicamente estimulante e fatal entre as autoras. O mesmo sujeito usou de analogias torpes e jogo de palavras batido, cometendo imprudências, como comparar algumas de nossas escritas com costura , diz Mara Coradello, também editora.

Causar o harakiri de preconceitos é tão objetivo, que as editoras propuseram uma inversão lúdica: convidaram homens que se dispusessem a escrever tão bem como mulheres, contrariando o chavão de que autora de talento escreve como homem. Incógnitos, muitos autores têm perseguido o êxito de Nelson Rodrigues, que escreveu sete livros sob pseudônimos femininos.

As Suicidas pretendem fazer com que as mistificações literárias em torno da escrita de mulheres morram de vergonha em outras capitais do país, durante este e o próximo ano. Estão organizando eventos que podem incluir as cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e outras. E em 2007 deve ser publicada uma antologia que abranja a diversidade desta safra de deusas do vento, ou como se diz em japonês, kamikazes.


Casa das Rosas
Av. Paulista, 37 - SP
próximo ao metrô Brigadeiro

entrada franca

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