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Mimetismo (ou quase)

Aqui, as noites têm sido quentes. As tardes, tórridas, sem vento. Ausente de movimento, também a vida. Estática. Visivelmente pragmática. Previsível.

Aí, não sei como anda o tempo. Você nunca me diz se chove ou faz calor intenso, se está propenso a raios ou chuva de granizo. Então invento um tempo de equilíbrio, adequando meu mundo ardente a tudo o que não compreendo. Porque não sei, do vento, as causas. Porque, das asas, só conheço o efeito de não tê-las. Crio, acolá, um clima cálido: morno-dor-mente. Chamo por Favônio, que, solícito, me atende, abrandando a condição de agito que me ferve. E tapo o sol em meu peito com uma cortina de neblina. Fina, tecida em voal, forrada de renda, franzida. Teatral, na medida.

Vida baça, tépida, na dimensão que forjei: nem lúgubre, nem alegre em demasia. Aclimatada. Adaptada ao meio.

Lá, vivo quase. Vivo talvez. Vivo acho. Sobre vivo.

Em contraste com a alvura da neve, algures.


valéria tarelho

Comentários

Anônimo disse…
KCT! 100sacional!

Parece acupuntura, cada palavra uma agulhada!

Gosto d+ de seus escritos, Val.

Parabéns!

1bjo,
Mirella
Anônimo disse…
nossa, quem sbe sabe - vc consegue escrever sobre banadiladades de um modo especial. gostei. voltarei. beijim.
Ricardo Mainieri disse…
Prosa poética delicada e com estilo.
O tempo como mote para falar das interioridades.
Gosto deste recurso,nrmalmente uso a figura do espelho.

Beijão querida que te espero recuperada...

Ricardo Mainieri